O PROCESSO
DIALÓGICO
Hoje em dia, fala-se muito em “diálogos”.
Logo, estamos de acordo sobre a necessidade de um “método dialógico” para o
processo de aprendizagem.
Assim, para termos um diálogo, é preciso
termos comunicação entre dois pólos positivos, uma forma de troca ou de
descoberta mútua.
Então,
por este ponto de vista, o aluno é na melhor das hipóteses, como uma folha
branca, pronta para absorver os ensinamentos escolares. Contudo, em muitos
casos, o aluno começa a menos zero, pois é diagnosticado principalmente em
termos de carências e faltas. Aliás, é sintomático que a ciência pedagógica
possui inúmeros instrumentos para localizar as lacunas na formação do aluno e
procurar a sua originalidade, especialmente a do tipo que extrapola o
conhecimento clássico, o que requer instrumentos de uma sofisticação
infinitamente maior.
Assim, para participar de um diálogo a pessoa
precisa tanto escutar quanto falar, precisa se interessar pelo seu interlocutor
precisa acreditar que este tem algo para lhe ensinar. Se esse processo de assim
“positivar” a imagem do outro já é difícil e se tratando da relação
adulto/criança é mais problemática ainda, quando - como em tantas escolas
brasileiras- o adulto é da classe média e a criança dos grupos populares.
Nesta
hipótese, Não estamos negando o bom senso dos objetivos educacionais básicos.
Estamos de acordo que é desejável desenvolver nos alunos certas habilidades do
mundo escrito e que os alunos têm potencial para adquirir essas habilidades.
Entretanto, é uma linha tênue que separa o ensinar do disciplinar.
Para tanto, é necessário encarar as crianças
enquanto integrantes de grupos sociais historicamente constituídos. Não se
trata de cair num romantismo retrógrado, idealizando o modo de vida destes
grupos como algo mais “natural”, “autêntico” ou “espontâneo”, etc.
Logo, Representa a idéia de algo moralmente
superior, a ser preservada e transmitida a toda humanidade. O professor, ao
reconhecer “lógicas alternativas” razoavelmente bem adaptadas a um determinado
contexto, inicia o árduo trabalho de colocar em perspectiva sua própria lógica
(também fruto da experiência de vida de uma determinada classe histórica).
Assim, a partir daí, pode começar o diálogo.
CONSTRUÇÃO
E DESCONTRUÇÃO NO MÉTODO ANTROPOLÓGIACO
Na cabeça de muita gente, a antropologia
ainda é sinônima do pensamento evolucionista do século XIX. Assim como as
demais ciências sociais é verdade que a nossa disciplina começou no mundo da
Europa colonialista onde os teóricos pensavam em termos de povos “primitivos” e
povos “civilizados”. Faziam de seu mundo o centro do universo, o topo moral do
processo evolucionário e classificavam o resto da humanidade em função de quem
estava mais perto ou mais longe deles.
Sendo
assim, Todo o trabalho das últimas décadas tem sido no sentido de desconstruir
a visão “etnocêntrica” do mundo para escapar aos ardis tanto do preconceito
racista como do romantismo rousseauniano. Desta forma, Fala-se muito em
“alteridade”, procura-se captar a “lógica do outro” – um processo que não é tão
óbvio quanto poderia parecer à primeira vista. Isso por que implica no esforço
de sair de nosso próprio sistema simbólico - que nos acompanha como o ar que
respiramos- para tentar penetrar no sistema do “outro”
O
conceito de cultura, tal como é empregado pela grande maioria de antropólogos
contemporâneos, representa uma negação do pensamento evolucionista
novecentista, No entanto, o conteúdo específico destes significados assume um
número quase infinito de formas
Em
todos os grupos sociais, por exemplo, existem práticas que parecem com aquilo
que chamamos “casamento”. Entretanto, se não levarmos em conta a configuração
de valores que circunda estas práticas em cada contexto, não compreenderemos
grande coisa.
No
ensino da antropologia, gostamos de dizer que o estudante não deve levar idéias
pré-concebidas para a pesquisa de campo. Certamente ele tem a obrigação de
familiarizar-se com as teorias científicas pertinentes ao problema e à
comunidade que quer estudar.
É
neste sentido, que a contribuição da antropologia para este debate vem mais de
seu método do que de seu estoque de conhecimento. O famoso “estranhamento” do
método antropológico, herdado das nossas andanças em lugares exóticos, nada
mais é do que esta desconfiança diante de receitas fixas, esta sensação de que
diante de cada experiência é necessário construir uma nova análise.
A
CIDADANIA: UM CAMPO DESAFIADOR DE INVESTIGAÇÃO
Vivemos
em uma sociedade de classes onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas
ultrapassam os limites da imaginação. Essas desigualdades são responsáveis pela
situação de “apartação” reinante, na qual, muitas vezes, “ricos” e “pobres” só
se encontram em situações de faxina ou assalto
As
diferenças culturais que existem no Brasil são, sem dúvida nenhuma, em parte
ligada a esta desigualdade, mas são ligadas enquanto conseqüência e não causa.
Ao mesmo tempo em que obramos para mudar a situação ao nível estrutural,
devemos, na medida do possível, tentar compreender a lógica dos sistemas
simbólicos que surgiram em função do atual contexto, mas essa compreensão não
pode se der num processo autoritário. Esta só pode se dar através de um
processo dialógico em que, eventualmente, as próprias categorias do
“observador” se transformem em função do contato intersubjetivo.
No
entanto, a indignação diante da injustiça social e a boa vontade não bastam
para viabilizar a transformação da sociedade que almejamos. Há um perigo que
esta indignação saia pela culatra, levando a uma visão estereotipada da
realidade e barrando o caminho para uma compreensão aprofundada da visão dos
sujeitos. Na história recente, temos diversos exemplos deste tipo de erro.
Enquanto
os educadores continuarem colocando a culpa pela pobreza nas “mentalidades”
(atrasadas ou alienadas) dos grupos trabalhadores, o processo educativo seguirá
os moldes tradicionais- a mão única- de um “plus” para “menos”. Pelo contrário,
o reconhecimento das causas estruturais da pobreza abre o caminho para um
processo dialógico entre diversos grupos e para a ação, eventualmente em
conjunto, que transformará a sociedade. Para o novo lema “cidadania” ter
efeito, terá que representar mais do que uma modificação de retórica, terá que
ser acompanhado por cada educador, por cada segmento social.
Referência:
Páginas da Internet
Fonseca, Claud. Willian. Antropologia, Educação e
Cidadania:
http:www.scielo.br/script=sci_arttxt&pid=so10132621997000200002
Acesso em: 03 de Abril de 2011
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